A Doença.
Perde-se
a identidade e sabe-se de cabeça números, dados pessoais, dosagens, datas,
resultados de exames, horários e dias de descanso são apenas uma lembrança pois
quem assume esse papel não consegue confiar que alguém saberá trocar o curativo
adequadamente, que na hora do banho vai apoiar a pessoa com cuidado, vai a
todas as consultas, responde todas as perguntas, limpa, faz todas as compras,
paga as contas, cozinha. A sensação é de nunca conseguir amar o suficiente.
A perda de pelos, especialmente
dos cabelos, é, talvez, a característica mais marcante de pacientes de câncer.
Mais que uma questão estética, mudar o cabelo é uma das mais rápidas e
eficientes possibilidades de “tornar-se uma pessoa diferente”. Para as
mulheres, principalmente, fazer uma mudança radical na hora em que tudo parece
estar ruim ajuda a aumentar a autoestima, a dar ânimo para reagir. Os primeiros
fios de cabelo branco são outra alteração que nos faz repensar a forma como
nos vemos e encaramos a vida. Estes exemplos ajudam a entender mudanças no
cabelo como ritos de passagem pois aí movimenta-se todo um universo de
significados. Assumir uma nova identidade visual com uma alteração que pode ser
reversível, neste caso, é simbolizar as marcas deixadas em doentes e
familiares, como outras tantas “cicatrizes” que o viver nos traz.
A Despedida.
Então
um dia a pessoa dorme. Mas, ao
contrário do que muita gente pensa, além da dor não tivemos descanso. De modo
geral, nossa cultura é de negação da morte. Empresas, instituições, pessoas não
estão preparadas para resolver questões legais ou burocráticas de modo simples.
Não há, no manual das centrais de atendimento ao cliente, uma página dedicada à
questão “falecimento do cliente”. E isso é apenas uma pequena parte do que se
desenrola.
E o prontuário humano, sem
direito a viver seu luto, depara-se com um novo papel: resolvedor de pendências. Dizer “meu pai faleceu...” antes de
explicar a dúvida nem é escutado por quem apenas está contando o número de
atendimentos. E torna-se lugar comum, automático, uma frase sem sentimento. Meses depois, ainda dói atender o celular que
era dele.
ACEITA UM POUCO DO MEU AMOR?
Concepção e performance:
Silvana da Costa Alves
Mostra Teatrofídico 2015, artistas convidados: Débora Villanova, Luis Franke e Karen
Radde.
10 de julho, entre 19 e 20h no térreo do Sesc Centro - Av. Alberto Bins, 665
Livre e franca
Fotografia: Juliano Verardi
Imagens com colegas
aqui.